quarta-feira, 8 de maio de 2013

Minha (des) Construção na Vida Real


Quase um ano se passou desde a última publicação. Dizem que a tristeza nos impulsiona a escrever, mas, o que me impulsionou a criar esse blog e querer mantê-lo ativo, foram a felicidade, a euforia e o desejo de me desmitificar, para mim mesma.
Quando o criei estava em êxtase por me ver em uma das melhores universidades do país, por enxergar os meus planos, sonhos e objetivos tão próximos... Estava feliz e radiante por finalmente avistar o meu vir-a-ser, que por tanto tempo havia buscado.
Mas algo me interrompeu nessa tarefa, talvez para me mostrar que ainda haviam coisas, ainda havia o que ver, sentir. Ainda haviam lágrimas para derramar, dores para doer, risos nunca antes tão sinceros para sorrir até que eu pudesse, de fato, me ver um ser em constante transformação.
Muitas coisas aconteceram em quase 12 meses. Com um avô e uma tia doentes, em estado terminal, longe de casa, a pressão de um começo de semestre em pleno final de ano (devido à greve das universidades públicas), eu cedi. Adoeci, fiquei dias de cama, tranquei a faculdade e resolvi voltar para casa.
Foram momentos perturbadores, não sabia se havia ou não tomado a decisão correta, mas algo dentro de mim me fazia sentir que, o melhor a se fazer naquele momento, era estar perto da minha família, das pessoas a quem eu mais amava.
Foi duro ver partir  pessoas que participaram com tanta intensidade da minha construção. Meu avô me ensinou muitas coisas, coisas que talvez ele nem saiba que ensinou. Me ensinou principalmente a amar e perdoar, incondicionalmente. A lutar e sempre seguir em frente, estudar por que o estudo abre a nossa mente...
Minha tia, Bárbara, foi bárbara muito além do que sugere seu nome. Viveu a vida intensamente em uma época em que as mulheres eram subjugadas e reprimidas. Saiu do interior para trabalhar em uma cidade grande, viajou e namorou o quanto quis, sem se importar com julgamentos. Morreu com quase oitenta anos;  antes dos meses em que lutou contra o câncer, tinha carinha e postura de 50. Dava aulas de yoga, inglês, frequentava a biblioteca... Viveu sua vida como quis.
Foram duas perdas, previstas, mas não menos dolorosas e (sim! por que não?) me trouxeram grande aprendizado. Eu me vi em um mundo que não conhecia, ou pelo menos lutava para não conhecer, a vida real.
Sarei, me despedi, retomei a faculdade e vi o quanto a vida é breve, o que me permitiu querer vivê-la ainda mais, pensar ainda mais, amar ainda mais, sorrir ainda mais!
A dor da saudade ainda é viva, mas ela se transformará em boas lembranças! Se transformará no cheirinho de madeira e arroz molinho no fogão, no leite cru quentinho recém tirado, nos acúleos das rosas do jardim, no cheirinho gostoso de sabonete que meu avô tinha assim que saía do banho...
Se transformará nas fotos antigas de maiô nas praias de Santos, nos carnavais do Ilha Porchat, no gostinho do manjar de côco e do estrogonofe de frango e toda vez em que alguém me chamar de "queridinha", como fazia a tia Babinha.
A vida segue, as ondas do mar vistas da minha janela não param de rolar, e eu também não posso parar... Sempre grata pelas experiências que me fazem mais forte, me dão forças para prosseguir e me (des) construir.


Vô Aécio, peneirando o café para a moagem
Tia Babinha, sorridente e alegre como sempre foi